Na reportagem sobre educação das páginas 4 e 5 do Jornal Zero Hora do último domingo, 30 de maio, chegamos ao ápice do pseudo-jornalismo. O pretenso texto imparcial e democrático, pois traria opiniões diversas, na realidade é um dossiê de avaliações internacionais e de opiniões de economistas supostamente especialistas em educação. Ao debater a questão da meritocracia e da premiação dos “bons” professores o economista brasileiro chega a afirmar que: “É a lógica do mercado de produtividade. Manter o professor ruim é o mesmo que uma fábrica de automóvel não demitir um funcionário que deixa passar carros com defeito.”, notem a comparação feita pelo dito especialista. Nesse caso o aluno é um produto e o professor um fiscalizador. Será que é, realmente, a lógica do mercado que nos orienta nesse mundo insano, injusto, desigual, preconceituoso que deve ser, também, a lógica para a educação? A educação só não avança, entre outras razões, pelo fato de nossa sociedade viver essa lógica de mercado que trás consigo o individualismo, o consumo e a competitividade.
A tendenciosa reportagem compara o modelo americano, o finlandês e o paulista de Serra e do secretário Paulo Renato que foi oito anos ministro da educação do Brasil no governo FHC (lembra algo que ele tenha feito?). É sério isso? Os dois primeiros incomparáveis com o Brasil por inúmeras razões e o último é o desastre educacional do país, os professores paulistas começaram o ano em greve e estão sofrendo cortes salariais e um desmanche de suas carreiras. A comparação, na verdade, não compara nada. Os três, cada um do seu modo, pregam a meritocracia para uma área como a educação que é um espaço de construções coletivas, que depende de investimentos do Estado em suas várias dimensões, formação, estrutura das escolas e salarial. Além de dar legitimidade a pesquisas externas ao nosso país, querer importar padrões de gestão e pedagógicos de professores de universidades estrangeiras, a Zero Hora não teve a sapiência de procurar aqui mesmo no Rio Grande do Sul alguma opinião.
A UFRGS tem, no seu programa de pós-graduação em educação, mais de oitenta professores, e sabiam que esse programa tem a nota máxima nacional da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e que, portanto, está entre os que mais produzem no mundo. Entretanto, ninguém foi ouvido, deve ser pelo fato de que a opinião advinda do programa iria de encontro ao que o jornal do mercado queria defender.
Na educação não existem professores bons ou ruins, assim como alunos, esse maniqueísmo serve para o mercado onde tudo tem que ter um fim lógico e único: o lucro. A educação envolve um universo de oportunidades, condições matérias concretas de trabalhos e de vida, uma formação inicial e continuada, que não depende só do professor, mas sim do Estado. Como posso trabalhando 40 ou 60 horas semanais, com um salário de no máximo mil e quinhentos reais e com 40 alunos por turma, estudar metodologia a fundo, comprar livros, planejar formas alternativas de avaliação e freqüentar espaços culturais de qualificação profissional? E então, vem a Zero Hora por trás da fajuta reportagem, propor uma premiação para os “professores com melhores resultados” e aqueles que vivem todas circunstâncias acima citadas, será que estarão entre os premiados? Ou seja, aqueles que enfrentam dificuldades devem ser esquecidos e se afundar nelas!
Existem várias experiências exitosas em escolas e salas de aula pelo Brasil, mas, sem dúvida, o professor não é o único responsável por isso, assim como não é pelos fracassos. Há uma estrutura composta pelos gestores, pelo investimento público, pela comunidade de cada cidade e escola, pela cultura de cada região, por seu cenário político e econômico que condiciona a qualidade da educação. Não podemos aceitar que opiniões internacionais de economistas, e de oportunistas nacionais, dêem o rumo para o que queremos como educação para o nosso país, os resultados bons ou ruins deles podem não ser os nossos, a maneira de entender o mundo deles e da Zero Hora, pautado na lógica do mercado, não é nossa maneira de ver as coisas. Esse jornal tem lado muito claro e como eu queria que as pessoas entendessem isso, é uma angústia que me corrói. O lado é o da meritocracia, do agronegócio (Ana Amélia Lemos e Afonso Motta), das privatizações, da criminalização dos movimentos sociais, do desrespeito ao meio ambiente (defesa dos eucaliptos), entre outros.
Gregório Grisa: Pedagogo, especialista em Psicopedagogia Social e mestre em Educação.
A tendenciosa reportagem compara o modelo americano, o finlandês e o paulista de Serra e do secretário Paulo Renato que foi oito anos ministro da educação do Brasil no governo FHC (lembra algo que ele tenha feito?). É sério isso? Os dois primeiros incomparáveis com o Brasil por inúmeras razões e o último é o desastre educacional do país, os professores paulistas começaram o ano em greve e estão sofrendo cortes salariais e um desmanche de suas carreiras. A comparação, na verdade, não compara nada. Os três, cada um do seu modo, pregam a meritocracia para uma área como a educação que é um espaço de construções coletivas, que depende de investimentos do Estado em suas várias dimensões, formação, estrutura das escolas e salarial. Além de dar legitimidade a pesquisas externas ao nosso país, querer importar padrões de gestão e pedagógicos de professores de universidades estrangeiras, a Zero Hora não teve a sapiência de procurar aqui mesmo no Rio Grande do Sul alguma opinião.
A UFRGS tem, no seu programa de pós-graduação em educação, mais de oitenta professores, e sabiam que esse programa tem a nota máxima nacional da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e que, portanto, está entre os que mais produzem no mundo. Entretanto, ninguém foi ouvido, deve ser pelo fato de que a opinião advinda do programa iria de encontro ao que o jornal do mercado queria defender.
Na educação não existem professores bons ou ruins, assim como alunos, esse maniqueísmo serve para o mercado onde tudo tem que ter um fim lógico e único: o lucro. A educação envolve um universo de oportunidades, condições matérias concretas de trabalhos e de vida, uma formação inicial e continuada, que não depende só do professor, mas sim do Estado. Como posso trabalhando 40 ou 60 horas semanais, com um salário de no máximo mil e quinhentos reais e com 40 alunos por turma, estudar metodologia a fundo, comprar livros, planejar formas alternativas de avaliação e freqüentar espaços culturais de qualificação profissional? E então, vem a Zero Hora por trás da fajuta reportagem, propor uma premiação para os “professores com melhores resultados” e aqueles que vivem todas circunstâncias acima citadas, será que estarão entre os premiados? Ou seja, aqueles que enfrentam dificuldades devem ser esquecidos e se afundar nelas!
Existem várias experiências exitosas em escolas e salas de aula pelo Brasil, mas, sem dúvida, o professor não é o único responsável por isso, assim como não é pelos fracassos. Há uma estrutura composta pelos gestores, pelo investimento público, pela comunidade de cada cidade e escola, pela cultura de cada região, por seu cenário político e econômico que condiciona a qualidade da educação. Não podemos aceitar que opiniões internacionais de economistas, e de oportunistas nacionais, dêem o rumo para o que queremos como educação para o nosso país, os resultados bons ou ruins deles podem não ser os nossos, a maneira de entender o mundo deles e da Zero Hora, pautado na lógica do mercado, não é nossa maneira de ver as coisas. Esse jornal tem lado muito claro e como eu queria que as pessoas entendessem isso, é uma angústia que me corrói. O lado é o da meritocracia, do agronegócio (Ana Amélia Lemos e Afonso Motta), das privatizações, da criminalização dos movimentos sociais, do desrespeito ao meio ambiente (defesa dos eucaliptos), entre outros.
Gregório Grisa: Pedagogo, especialista em Psicopedagogia Social e mestre em Educação.
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