"O jovem que vai à escola não encontra o
professor de determinada disciplina ou não tem a aula de maneira adequada. Esse
jovem percebe que essa escola [da maneira como é oferecida] não garante um
lugar no mercado de trabalho. Então considera que o mais lógico é abandonar a
escola", explica a professora Marcia Malavasi, da Faculdade de Educação da
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "Dessa maneira, a escola
'expulsa' os jovens do ensino médio", conclui.
Desinteresse
"O jovem diz que não tem interesse, não tem
saco, não gosta da escola", afirma Haroldo Torres, diretor de análise e
disseminação de informações da Fundação Seade. Segundo ele, até existe um
reconhecimento de que estudar "é importante para o futuro", mas isso
não se traduz em esforço para se manter na escola.
A falta de interesse do aluno parece ser
resultado de um conjunto de situações, que vão da baixa qualidade do ensino, falta
de professores e altos índices de reprovação a problemas de infraestrutura
escolar, como a falta de bibliotecas e salas de estudo.
"O jovem tem dificuldades para chegar até a
escola, pois é longe e o transporte é caro. Quando ele chega, não tem professor
e a escola sequer tem uma biblioteca para manter o aluno ali estudando",
critica Marcia.
Retenção
A probabilidade de evasão do jovem aumenta
conforme o número de repetências no histórico escolar. "O nosso sistema é
muito reprovador, sobretudo em algumas regiões. No Nordeste, por exemplo, é
muito comum as pessoas ficarem retidas no ensino fundamental", explica
Torres.
A avaliação de que os altos índices de retenção
desestimulam o aluno ecoa na fala do pesquisador Simon Schwartzman, do Iets
(Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade).
"A educação pública brasileira é em geral
muito mal gerenciada, com níveis absurdos de reprovação e dependência. Basta
"arrumar a casa", garantir que os professores venham e dar aulas de
reforço para os alunos que ficam para trás para que os indicadores comecem a
melhorar", diagnostica.
Estrutura
Apesar do aumento no investimento no ensino
médio, com a criação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) que atende toda
a educação básica, os números do ensino médio não melhoraram. Uma das hipóteses
é de que o currículo não agrade a esse jovem.
"É importante deixar de obrigar todos a
seguirem os mesmos currículos, abrir espaço para escolhas, e ampliar de maneira
muito significativa a alternativa de formaçao profissional sem mantê-la
atrelada ao ensino médio regular", argumenta Schwartzman.
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