Sancionada lei das Cotas no serviço público
Dilma: “esta é a segunda lei que eu tenho a honra de promulgar com ações afirmativas."
Brasília
- Ao sancionar no último dia 9 de junho a lei que reserva aos negros 20% das vagas de concursos
públicos federais do poder Executivo, a presidente Dilma
Rousseff disse esperar que a medida sirva de exemplo para a adoção de normas
similares nos demais poderes, entes federados e na iniciativa privada.
“Esta é a segunda lei que eu tenho a honra de
promulgar com ações afirmativas, para fechar um fosso secular de direitos e
oportunidades engendrados pela escravidão e continuados pelo racismo, ainda
existente entre negros e brancos em nosso país”, disse, em referência à lei de cotas para as
universidades federais.
A lei,
originada em um projeto do Executivo enviado por Dilma em novembro do ano
passado, foi aprovada pelo Senado no último dia 20. Além da administração
pública federal, a nova lei se aplica a autarquias, fundações e empresas
públicas, além de sociedades de economia mista.
Segundo o
texto da lei, poderão concorrer na reserva para candidatos negros todas as
pessoas que se autodeclararem pretas ou pardas na inscrição para o concurso
público, seguindo o quesito de cor ou raça utilizado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
Os
candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas reservadas e às vagas
destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso.
Segundo
Dilma, o sistema que está sendo implantado “assegura que o mérito continua a
ser condição necessária para ingresso dos candidatos”, sendo que a lei altera
“apenas a ordem de classificação”.
De acordo
com a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(Seppir), Luiza Bairros, a mudança é um passo importante na superação das
desigualdades raciais e vai garantir a participação da população negra em
funções mais valorizadas.
Ela citou
como exemplo a Lei de Cotas nas universidades, que determinou que, a partir de
2013, parte das vagas em universidades federais sejam ocupadas por
ex-estudantes de escolas públicas, com reserva de vagas para estudantes pretos,
pardos e indígenas.
Para Luiza
Bairros, depois de garantir que as pessoas que sofrem preconceito pudessem ter
mais oportunidades de entrar no ensino superior, era necessário dar condições
de acesso a empregos que exigem maior qualificação.
“A
discriminação é maior quanto mais valorizada é a ocupação, o que nos obriga a
tomar dentro do mercado medidas para corrigir esse tipo de distorção”, disse a
ministra a Agência Brasil, em entrevista pouco antes da sanção da lei.
Segundo
Luiza Bairros, o governo optou pelo envio do projeto com urgência para que a
proposta não ficasse parada no Congresso. “Em função de existirem em tramitação
várias propostas sobre a população negra e igualdade racial, se deixássemos ao
sabor de processo de discussão do Parlamento, poderia demorar”. A ministra
espera que o apoio “suprapartidário” que levou à aprovação da lei seja “um
indicativo de aceitação que ela tem no conjunto da sociedade brasileira”.
A lei
prevê que, caso seja constatado que a declaração de negro ou pardo é falsa, o
candidato será eliminado do concurso e, se já tiver sido nomeado, poderá ter
sua admissão anulada e responder a procedimento administrativo.
"Os
negros não estão tomando lugar dos brancos. O que nós estamos fazendo é, seguindo o entendimento, que muitos especialistas, magistrados, inclusive nas
cortes superiores, têm no Brasil, de que para você construir a igualdade, você
não pode tratar os desiguais da mesma forma. Simplesmente, é isso que está
sendo feito", disse a ministra.
Questionada
sobre se há “contrassenso” por parte do governo federal ao sancionar a lei e
ter somente um dos 39 ministros negro, a ministra afirmou que a lei poderá
contribuir para ter mais negros indicados a cargos do chamado “primeiro
escalão”.
"Na
medida em que nós tenhamos uma presença maior de negros no serviço público, com
um conjunto de possibilidades, nós teremos a chance de ter prováveis indicados
para cargos mais altos, como secretários-executivos e ministros, mais do que
temos hoje", afirmou.