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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A luta de Angela Davis pela emancipação dos negros e da mulher

Você conhece a história de Angela Davis?

Mulher, negra, comunista, militante dos movimentos sociais (juvenis, antirracistas e feministas), líder na luta pelos direitos civis dos negros e contra o racismo, a professora de filosofia Ângela Yvonne Davis nasceu no dia 26 de janeiro de 1944, em Birmingham, no estado do Alabama, sul dos Estados Unidos, lugar onde eram comuns manifestações racistas de ódio contra negros, rixas, xingamentos, linchamentos, atos segregacionistas e ações terroristas promovidas pela Ku Klux Klan.
Angela Davis desde cedo conviveu com humilhações de cunho racial em sua cidade. Aos 12 anos, participou de um boicote a um ônibus que praticava segregação. Inteligente e estudiosa, aos 14 ganhou uma bolsa para estudar em Greenwich Village, em Nova Iorque, fato que transformaria sua vida, pois é ai ela conhece as teses comunistas e inicia a sua militância no movimento estudantil. A moça era simplesmente brilhante! Não tardou e logo se tornou estudante da Universidade de San Diego, na Califórnia, participando ativamente dos protestos contra a Guerra do Vietnã, sendo presa primeira vez.
Na década de 1960, além da militância no Partido Comunista participou ativamente das lutas dos movimentos negros e feministas que sacudiram a sociedade norte-americana da época, atuando organizações políticas como a dos Black Power e dos Blacks Panthers (panteras Negras).
Vale salientar que na época (década de 1960), nos Estados Unidos, havia duas tendências dominantes no movimento negro: uns pregavam o uso da violência como tática de luta nos protestos e revoltas negras, como as de Watts ou as de Detroit; Outros, mais moderados, como Martin Luther King, preferiam a via pacífica, pregando o “integracionismo". Angela rejeita as duas posições e trilha pelo caminho do marxismo como luta política.

Angela, ingressa ainda no Black Panther Party (BPP), ou Partido dos Panteras Negras, que era uma organização revolucionária, inicialmente pacífica, criada em 1966 por Bobby Seale e Huey P. Newton, dois estudantes de Oakland, Califórnia, que rejeitava tanto a moderação dos integralistas quanto o radicalismo exacerbado dos separatistas. Influenciados pelos ideais revolucionários de outro líder negro ilustre, Malcolm X, os “The Black Panthers” endureceram suas posições e passaram a responder com violência à violência praticada pelos brancos contra negros, adotando o símbolo da pantera negra.

Em 1970, George Jackson, membros dos Panteras Negras, estava encarcerado na prisão Soledad, na Califórnia, onde formava, com mais dois outros detentos, os "Irmãos de Soledad", acusados de matar um guarda penitenciário branco em retaliação à execução de outros três detentos negros. Então, no dia 7 de agosto daquele ano, numa ação armada de luta para denunciar os maus-tratos a negros nos presídios americanos, o irmão de 17 anos de George, Jonathan, invadiu o tribunal de Marin County e tomou o juiz Harold Haley como refém. Houve luta. Quatro são mortos, inclusive Jackson e Haley. A polícia examina a arma. O relatório acusa: o fuzil de cano cortado cuja bala atingiu a cabeça do juiz pertencia a Angela Davis.
Angela Davis, então, passou a ser acusada de conspiração, sequestro e homicídio. O FBI, dirigido pelo anticomunista e segregacionista Edgard Hoover, tenta a todo custo desqualificar e desmantelar os Panteras Negras acusando-os de subversão ao Governo Norte-Americano, apontando Angela como mentora intelectual das ações do grupo. O FBI sai à procura de Angela e a inscreve na lista das dez pessoas mais procuradas nos Estados Unidos, a famosa Lost Wanted List. Ela foge. Por quê? "Teria sido morta", afirma Angela hoje. Hoover manda prender centenas de mulheres que se parecem com ela.

Angela foi alvo de uma das maiores e implacáveis caçadas humanas do país na época, acompanhada dia a dia pela mídia até ser presa em outubro em Nova Iorque. Amada pelo povo e pela juventude e odiada pelos governantes e pela polícia política de seu país, segue Angela Davis.
Sua foto seria estampada em praça pública pelo FBI num cartaz que dizia “WANTED BY THE FBI: MURDER, KIDNAPING” (Procurada pelo FBI por assassinato e sequestro). Ela se disfarça. A polícia revista as comunidades negras. No sul do país, milhares de casas em contrapartida exibem um cartaz com as frases “Angela Davis. Sister: You Are Welcome in This House” (Angela Davis. Irmã: Você é bem-vindo nesta casa). Mas o FBI tem mãos de ferro, sua prisão é só questão de tempo.
Nos Estados Unidos, o presidente Richard Nixon a amaldiçoava. Ronald Reagan, governador da Califórnia, tentou expulsá-la para sempre de qualquer universidade do estado. O chefe do FBI, Edgar J. Hoover lança suas tropas para caçá-la e jogá-la numa prisão de isolamento absoluto.
Angela, finalmente, é presa em Nova York, em outubro de 1970, protagonizando um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história dos Estados Unidos. Sua luta política alcançaria notoriedade mundial. Seu julgamento durou meses, colocando uma mulher negra, jovem, culta, assessorada por uma equipe brilhante de advogados, no centro das atenções da imprensa nacional num paralelo que só seria igualado décadas depois pelo julgamento de O. J. Simpson. Nos longos debates na corte, não apenas o caso criminal envolvido veio à tona, mas uma grande discussão sobre a condição negra na sociedade norte-americana foi travada.
A prisão da ativista juvenil causaria uma onda de protestos e manifestações diárias que sacudiu os Estados Unidos por sua libertação e absolvição, transmitidos ao vivo pela televisão. Nas principais cidades norte-americanas explodem protestos e manifestações de apoio a Angela exigindo sua liberdade.
Protestos de apoio à ativista ocorrem em várias partes do mundo. Em Paris, 100 mil pessoas saem às ruas gritam o seu nome e exigindo sua libertação, numa manifestação liderada por Jean-Paul Sartre e do poeta Louis Aragon. Na Inglaterra, os Beatles e os Stones entusiasmavam as multidões cantando "a pantera negra".
Enquanto o mundo clamava “Libertem Angela Davis” a mesma permaneceria presa, em isolamento absoluto, durante 16 meses. "Eles queriam me quebrar”, ela diria mais tarde. “Me enlouquecer (...) Vivi momentos muito duros, de angústia, de claustrofobia. E momentos de graça. Eu não podia desabar."
Em 5 de janeiro de 1971, ela é acusada de assassinato, sequestro e conspiração pelo caso Marin County, mas o julgamento terminaria com a libertação de Ângela Davis dezoito meses depois, em 1972, sendo inocentada de todas as acusações. Absolvida, torna-se celebridade mundial. Em toda parte, e erguida a imagem da corajosa combatente com seu rosto sereno e obstinado exibindo com orgulho sua imensa cabeleira afro, acompanhado do slogan “Black is beautiful”.

Na época a voz de Angela era quase era contundente em associar e unificar, dentro da mesma palavra de ordem, a luta pela dignidade dos negros e a emancipação feminina. Angela cita que havia um machismo nos movimentos. “As mulheres não eram consideradas capazes de carregar a causa, de serem líderes." Seria não conhecer bem Angela acreditar que ela iria se limitar, nas organizações negras, à tarefa de passar o pano no chão ou preparar a marmita dos senhores.
Livre e vitoriosa, Angela viajou para Cuba, seguindo os passos de seus amigos, os ativistas radicais Huey Newton e Stokely Carmichael. A recepção popular na Ilha de Fidel foi tão entusiástica que ela mal pôde discursar.
Guerreira, mulher de muita dignidade, sabedoria e experiência de luta, Angela permaneceu firme no ativismo político, escrevendo diversos livros dedicados à denúncia as condições carcerárias do Sistema Carcerário em seu país, defendendo como solução sua extinção pela criação de modelo de adoção de penas alternativas. Angela não se considera uma reformista prisional, mas uma abolicionista do “complexo industrial de prisões” de seu país transformado em centro de prisão e punição de negros e latinos, cuja causa atribui à origem de classe e de raça dos apenados e à herança escravocrata do período colonial.
Angela nunca abandonou seus ideais comunistas e sua militância política, candidatando-se a vice-presidente dos Estados Unidos por duas vezes (em 1980 e 1984) pelo Partido Comunista sem obter sucesso, mas firmando sua bandeira contestatória.
A América mudou muito desde o tempo em que a menina de 12 anos boicotava um ônibus porque os negros não tinham o direito de andar ao lado dos brancos nos transportes públicos. Angela reconhece os progressos. Em sua juventude, raros eram os negros no ensino superior. Hoje, eles são milhões. Mas “a estrada é longa ainda”, indaga.
Diante da observação de que uma coisa inacreditável aconteceu, a eleição de um negro para a Presidência dos Estados Unidos, Angela modera no entusiasmo. "Hoje, ninguém na Casa Branca parece se preocupar com o fato de que 1 milhão de negros estão nas prisões americanas."
Como professora de filosofia na Universidade da Califórnia, que Nixon (Presidente dos Estados Unidos) e Reagan (então governador da Califórnia) tentaram lhes proibir, no auge de seus 71 anos, ela continua a ensina as teorias de Karl Marx, Herbert Marcuse, Mikhail Bakunin, Herbert Marcuse..., dividindo seu tempo com palestras que ministra pelo mundo afora, sempre que é convidada.


(Pesquisa bibliográfica realizada por Hugo Martins)

FONTEs CONSULTADAS:
http://pt.wikipedia.org, entre outras.

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