Culpar professores
por queda no Ideb é falácia e covardia
A declaração do vice-presidente
do Conselho Nacional de Secretários de Educação – Consed (ver aqui) de que a
culpa pelas notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB seria
das greves de trabalhadores em educação, só pode ser entendida como subterfúgio
de quem detém a prerrogativa de mudar uma situação calamitosa no país, mas se
omite, insistentemente.
Contrapondo a
lamentável declaração do Sr. Eduardo Deschamps, Secretário de Educação de Santa
Catarina, vale lembrar que o amplo descumprimento da Lei do Piso do Magistério
e as péssimas condições de trabalho nas escolas são fatores centrais para a
baixa qualidade da educação. E não será jogando a responsabilidade para os
professores que a situação da qualidade se resolverá nas escolas públicas.
Pesquisa da UnB e
da UFSC, divulgada em 2013, revelou que apenas 0,6% das escolas públicas do
país contam com infraestrutura adequada. No Norte e no Nordeste, 71% e 65% das
escolas, respectivamente, possuem condições estruturais elementares (abaixo da
média tolerável).
A recente pesquisa
da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostra que
o Brasil ocupa a penúltima posição em investimento por estudante e média
salarial dos professores no nível básico de ensino, entre 35 países
pesquisados. O salário dos professores brasileiros corresponde a 1/3 (um terço)
da remuneração de europeus, japoneses, sul-coreanos e norte-americanos.
Pior: muitos
estados e municípios brasileiros possuem mais professores em contrato
temporário e precário de trabalho do que concursados. E a múltipla jornada –
necessária para complementar a renda familiar dos professores – atinge quase
30% da categoria, comprometendo a qualidade do trabalho escolar e a saúde dos
profissionais.
Na última década,
segundo o relatório da OCDE, o Brasil avançou no financiamento da educação,
passando os investimentos de 3,5% do PIB em 2005 para 5,9% em 2011. Também a
diferença no financiamento entre os níveis superior e básico reduziu. Em 2000,
o custo per capita de um estudante universitário era 11 vezes superior ao
aplicado na educação básica. Hoje é o quadruplo (o que ainda é alto!). O
orçamento do MEC para o nível básico, no mesmo período, saltou de 20% para 50%,
o que é salutar, porém insuficiente.
A CNTE entende que
ao invés de tentar procurar “bodes expiatórios” fora da gestão pública para
explicar as notas do Ideb, os secretários de educação deveriam convencer
governadores e prefeitos a pagarem o piso nacional do magistério numa estrutura
de carreira digna – assim como os demais trabalhadores escolares – e a
melhorarem as condições estruturais das escolas públicas, munindo todas com
laboratórios, bibliotecas, quadras esportivas, banheiros decentes, acesso à
internet, área de lazer e segurança.
O Plano Nacional de
Educação orienta a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para as
políticas educacionais, e, juntamente com a regulamentação do Custo Aluno
Qualidade, do Sistema Nacional de Educação e com a equiparação remuneratória do
magistério com outros profissionais de mesmo nível de escolaridade, deverá
proporcionar um novo paradigma de investimento e gestão escolar no Brasil. Mas
é fundamental que todas as esferas de governos (federal, estaduais, municipais
e distrital) atuem em conjunto e façam cada uma a sua parte, para que a educação
básica dê o salto de qualidade que a sociedade tanto almeja.
(Fonte: http://www.cnte.org.br,
Publicado em Quinta, 10 Setembro 2014)
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