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quarta-feira, 14 de julho de 2010

O que é sindicalismo classista?

O senso comum revela que o sindicato deve ser um instrumento de luta para a conquista de melhores salários e condições de trabalho. E essa idéia está baseada na origem dos sindicatos. Os primeiros sindicatos nasceram na Inglaterra, no século XVIII, quando ocorreu a Revolução Industrial. Nesse momento histórico, o capitalismo adquire condições básicas para se tornar o modo de produção predominante. Para extrair mais valia, a burguesia impõe um ritmo de trabalho de 16 horas diárias. Após a utilização de algumas formas de luta, a classe operária vai criar os primeiros sindicatos. Organizadas clandestinamente, as trade-unions (uniões de ofícios) foram se transformando em referências importantes das lutas. Nesse período inicial, os sindicatos desenvolvem a luta econômica.
Mas, em 1837, surge o movimento cartista na Inglaterra, considerada a primeira atividade em que os sindicatos se envolvem na luta política propriamente dita. O nome é derivado de uma carta em que os operários reivindicam maiores liberdades políticas, inclusive direito de voto para todos. Em outros países, também há grandes mobilizações políticas, sendo a mais importante, a chamada Comuna de Paris, em que os operários, por alguns dias,em 1871,conquistaram o poder político na França.
Assim, podemos afirmar que já no século XIX, os sindicatos desenvolveram lutas econômicas e políticas. Foi no final do século XIX e início do século XX, que se consolidam as principais concepções sindicais, elaboradas por teóricos europeus. Nesse período, tradeunionismo, anarquismo, marxismo, social-democracia, o chamado sindicalismo cristão e trotskismo aparecem enquanto teorias elaboradas.
O tradeunionismo enfatiza a luta econômica e defende o sistema capitalista; o anarquismo reforça a greve e o sindicato, tem um posicionamento anti-capitalista, mas minimiza a importância do partido político e da luta institucional; a social-democracia se referencia na luta institucional e no partido político, apostando no evolucionismo e não na revolução e na luta de classes; o trotskismo aposta na luta de classes e na revolução, mas desconsidera a correlação de forças para chegar à sociedade socialista, provocando o divisionismo e o isolamento; o sindicalismo cristão conservador objetiva a conciliação entre o capital e o trabalho, é anti-socialista e defende o sindicalismo assistencialista; já o sindicalismo cristão progressista é anti-capitalista, considera que o sindicato deve desenvolver luta econômica e política e, na falta de uma elaboração teórica própria, se aproxima do modelo marxista.
A concepção marxista considera que os sindicatos são fundamentais para o desenvolvimento da luta econômica; porém essa luta desenvolvida sem uma conexão com a luta política, acaba sendo muito limitada. Para Marx, a luta econômica deve estar articulada com a luta política e com a luta ideológica, visando a conquista do poder político pelo proletariado. Neste sentido, as greves são muito importantes, mas não são os únicos instrumentos de luta. A unidade dos trabalhadores é essencial para se ter sucesso na luta de classes. O partido político é fundamental para que o proletariado conquiste o poder político.
A concepção marxista ilumina a visão classista de sindicato. Praticar sindicalismo classista significa optar, na luta de classes, a favor da classe trabalhadora; trabalhar para que os trabalhadores e as trabalhadoras efetivamente conquistem melhores salários e condições de trabalho, consigam reduzir a jornada de trabalho sem redução de salários; significa participar da luta política mais geral, visando a transformação profunda da sociedade; significa também desenvolver um processo de formação política e sindical da classe trabalhadora para que esta adquira consciência de classe avançada. Significa buscar a unidade internacional dos trabalhadores para organizar a luta anti-capitalista.
O sindicalismo classista não defende só os interesses imediatos de determinada categoria ou ramo de atividade, mas também os interesses históricos da classe trabalhadora. Ou seja, não se contenta em desenvolver a luta econômica no sistema capitalista, mas sim deseja o fim do sistema capitalista e a sua substituição pelo socialismo.
Na conjuntura atual, as eleições de 2010 adquirem importância central para o sindicalismo classista. Trata-se de eleger candidatos comprometidos com os interesses da classe trabalhadora. Nesse sentido, a CTB, confederações, federações e sindicatos classistas devem estimular o voto naqueles candidatos que defendam um projeto nacional de desenvolvimento que efetivamente valorize o trabalho e distribua a renda, abrindo novos caminhos para a construção da sociedade socialista.

Fonte: Augusto Petta é professor, sociólogo, Coordenador Técnico do Centro de Estudos Sindicais (CES) e colaborador da Revista Visão Classista.

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