Força
Argentina, os abutres que vão à merda!
Por: Luís Sepúlveda
As manchetes da
imprensa espanhola não podiam ser hoje mais escandalosos e pior intencionados.
Argentina na falência! E a leitura da maioria das informações leva a pensar
numa sociedade e num governo incapazes de fazer frente às dívidas contraídas,
mas omitem dizer quem são os credores e a natureza dos fundos abutre cujos
pagamentos exigem de maneira imediata.
Que são os fundos
abutre? Na gíria dos especuladores, na língua maldita do que conhecemos sob a
denominação de "os mercados financeiros", são chamados "capital
de alto risco ou fundos de investimento livre" e consistem em dívida pública
de Estados com graves problemas económicos, ou dívidas de empresas à beira da
falência, que são comprados a preços infinitamente mais abaixo do valor com que
foram postos à venda. Assim, os fundos da dívida pública argentina foram
comprados a bancos e outros investidores que não conseguiram especular como
desejavam, a 20 ou 30 % do seu valor nomimal e, com truques de duvidosa
legalidade – para isso serve o FMI, o Banco Mundial e o Tribunal Federal dos
EUA – querem receber 100% do seu valor.
Uma breve olhadela
à história recente da Argentina permite-nos recordar que depois dos desastrosos
governos de Menem, o país caiu em falência no ano 2001 – corralito incluído – e
uma grande quantidade de títulos da dívida pública argentina foram comprados
pela NLM Capital Aurelius, uma das grandes firmas especuladoras especializadas
em fundos abutre, que agora pretende cobrar 100% dos títulos comprados a 6% do
seu valor real.
Esta compra,
realizada em Nova York, faz com que seja a justiça norte-americana a principal
avalista e defensora dos especuladores. Assim, a NLM Capital Aurelius comprou,
em 2008, outro lote de fundos da dívida pública argentina por um custo de 48
milhões de dólares, e agora pretende cobrar 832 milhões de dólares, aos quais
há que juntar outros 1500 milhões de dólares dos títulos comprados entre 2005 e
2010.
E essa breve
olhadela à história recente da Argentina permite-nos recordar que o presidente
Néstor Kirchner renegociou a dívida pública do país valendo-se de um argumento
muito capitalista, mas que os especuladores entenderam: "se a Argentina deve um milhão de dólares tem um problema, mas se
Argentina deve mil milhões de dólares o problema têm-no vocês".
O FMI,
o Banco Mundial, a Justiça norte-americana anunciaram o fim da Argentina como
Nação, como Estado, seria apagada do mapa, mas o presidente Kirchner manteve-se
firme e a maioria, 93 % dos detentores de títulos da dívida pública, aceitaram
ter um problema, e que era melhor aceitar o pagamento oferecido pela Argentina
do que perder tudo. Mas uma minoria, entre eles a NLM Capital Aurelius, levaram
a questão à Justiça norte-americana, que indubitavelmente decidiria a seu
favor.
Kirchner podia
ceder aos especuladores, tratava-se de dívida pública, muito fácil de pagar fazendo
cortes na educação, na saúde, na cultura, nas infraestruturas, em tudo o que dá
razão de ser ao Estado a serviço dos cidadãos. Por sorte para a Argentina,
Néstor Kirchner era um presidente leal ao seu povo e não um miserável fantoche
ao serviço dos especuladores.
O que as manchetes
da imprensa ao serviço do capitalismo mais feroz deveriam ter dito é:
"Argentina suspende o pagamento dos fundos abutres", mas a chantagem
a que se quer submeter à nação Argentina inclui também o descrédito e a
calúnia, a ofensa à dignidade de um país.
A presidenta
Cristina Fernández falou com contundência, o povo argentino não vai satisfazer
a criminosa ânsia de lucro de uns miseráveis especuladores.
Força Argentina!
Isto deve ser um exemplo a seguir para muitos países cujas economias estão em
mãos de especuladores. Essa dívida não é para pagar.
(Fonte: http://www.esquerda.net/artigo31
de Julho, 2014 - tradução de Luis Leiria)
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