Barragem Oiticica sim! Injustiças não! Direitos já! No
Ponta Pé não Sairemos
Permanece
o impasse da paralização das obras de construção da Barragem de Oiticica pelos trabalhadores
rurais, proprietários e moradores das comunidades rurais e do distrito de Barra
de Santana que serão atingidos pela construção da referida barragem. As obras permanecem
paralisadas, desde o dia 12 de maio último, pelo movimento popular que ocupou o
canteiro de obras tendo em vista a quebra, por parte do governo do RN, do acordo
firmado com os comunitários, no início do ano, referente ao pagamento das
indenizações e construção das casas dos moradores afetados.
Desde
então os diálogos têm sido intermediados pela Diocese de Caicó que no mês
passado enviou uma carta aberta (confira a seguir) à presidenta Dilma Rousseff,
subscrita por pela comunidade reivindicando o pagamento das referidas indenizações
e construção das moradias.
Carta aberta dos movimentos sociais e das famílias atingidas pela construção da barragem de oiticica, no território do Seridó potiguar, à presidenta Dilma Roussef
Pela defesa da obra física e humana da
Barra de Oiticica do Território do Seridó Potiguar
10/06/2014
“Quando os problemas se tornam absurdos,
os desafios se
tornam apaixonantes”.
Dom Helder Câmara.
À Exmª. Srª. Dilma Rousseff
Presidenta do Brasil
A Barragem de Oiticica localizada na Bacia
Hidrográfica do Rio Piranhas, entre os municípios, de Jucurutu, São Fernando e
Jardim Piranhas, todos no território do Seridó/RN, pensada e sonhada deste
1950, finalmente começa a sair do papel fruto da luta popular e decisão de
governo. A área da bacia hidráulica da barragem é 6.000ha e a área da bacia
hidrográfica é de 34.000km². Terá
capacidade de acumular 556.258.050
milhões de metros cúbicos d’água, sendo o terceiro maior reservatório hídrico
do RN e o primeiro em volume d’água localizado na região do Seridó. Este
empreendimento beneficiará diretamente e
indiretamente meio milhão de potiguares de 17 municípios das regiões Central,
Seridó e Vale do Açu, no estado do RN.
Já foram executados 25% da obra física da
barragem, pelo Consórcio EIT/ENCALSO, sob a supervisão da KL Serviços de
Engenharia S/A. É uma obra do governo federal/Ministério da Integração
Nacional/Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) que através de
um acordo técnico repassou a responsabilidade de construção para o Governo do
RN, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh).
Para a execução da obra está sendo investido recursos federais (PAC 2) na ordem
de R$ 292 milhões (94,89%) e contrapartida do estado do RN no valor R$ 19
milhões (6,11%), totalizando em R$ 311 milhões o valor total da obra. Os
recursos referentes à primeira parcela saíram no segundo semestre de 2013 e
foram no valor de R$ 27.466.667,00 milhões por parte do Governo Federal e
contrapartida de R$ 1.787,425,00 milhão do Governo do Estado, totalizando
29.254.092,00. Estes recursos foram gastos na obra da barragem, sem ter sido
paga uma só indenização e construída uma única casa.
A construção da barragem será uma redenção
para o desenvolvimento sustentável solidário e uma segurança hídrica para
enfrentar os longos períodos de estiagem (seca) na região e servirá também para
o controle das vazões do rio piranhas e redução das inundações do Vale do Açu,
atenuando as cheias e prejuízos às plantações e animais. A barragem comportará
a capacidade de irrigação de até 10.000ha e o abastecimento humano para uma
população de até 2.000.000 pessoas, com possibilidade de geração de energia
para o atendimento de uma população de 140.000 pessoas, piscicultura, lazer,
turismo etc.
As oportunidades desta obra são inúmeras e
diversificadas. Somos a favor da construção da barragem, pela segurança hídrica
e os benefícios sociais e econômicos que trará para região. Porém, somos contra
qualquer injustiça e desrespeito aos direitos dos atingidos pela construção da
barragem. As comunidades atingidas são o nosso território de vida, historia e
cultura. Somos guardiões das terras, animais, plantas e rios presentes neste
lugar. Queremos transformar esta terra sem males sonhada por nossos ancestrais
e, para isto, temos nosso coração cheio de coragem e solidariedade.
Entendemos que uma obra desta magnitude
jamais o governo federal deveria ter repassado sua execução para o governo do
estado e permitido o desrespeito e descumprimento à constituição brasileira que
estabelece a prévia e justa indenização, e em dinheiro, antes do início da
obra. Como já dissemos, a obra física avançou 25% e as 773 famílias de
agricultores familiares e produtores rurais, representando aproxidamente 3000
pessoas e 225 famílias do distrito Barram de Santana, em torno de 900 pessoas,
totalizando 3900 pessoas, estão sem garantia de indenizações e reassentamento
até o momento. Além disso, somos obrigados a conviver entre 140 máquinas
provocando poeira em nossas casas, poluição sonora, risco de acidente nas
estradas das comunidades, dinamites usadas na fundação da barragem provocando
rachaduras e demolição das casas e causando doenças, estresse e todo tipo de
insegurança e medo nas pessoas.
Em janeiro de 2014 os atingidos pela
construção da barragem, na busca de diálogo para garantir as indenizações e
reassentamento, ocuparam pacificamente o canteiro de obra paralisando as
atividades físicas. E no dia 08 de janeiro a governadora do estado, acompanhada
do arcebispo de Natal, secretários de estado e muitas outras autoridades,
esteve presente no espaço da obra, onde assumiu um conjunto de compromissos e,
por razões que não conhecemos, não foi cumprido.
A quebra dos compromissos assumidos pelo
governo do estado fragilizou as relações entre governo e sociedade e o
movimento dos atingidos pela construção da barragem, após verificar que o
governo abdicou de suas responsabilidades e ignorou prazos e compromissos
assumidos, ocupou novamente, há quase um mês o canteiro de obra, de forma
pacifica. Com isso, os serviços da barragem estão paralisados e nenhuma
proposta concreta foi viabilizada pelo governo do estado até o momento.
Diante do impasse em curso e verificando
que 94,89% dos recursos da construção da barragem têm como fonte financiadora o
governo federal, solicitamos de Vossa Excelência que garanta e priorize repasse
de recursos para o pagamento das indenizações a todos os agricultores/as e
proprietários/as, com pagamento imediato de 280 laudos até o final de junho,
sendo os demais nos meses de julho, agosto e setembro, de forma que todas as
indenizações sejam concluídas antes das eleições de outubro de 2014. Quanto ao
reassentamento das famílias, solicitamos que seja da mesma forma, garantido e
priorizado repasses de recursos vinculados à construção da nova comunidade
Barra de Santana, tento em vista que em 15 de maio de 2015 a nova comunidade já
esteja construída.
Solicitamos de Vossa Excelência que faça um
ajuste no termo de transferência da obra para o governo do estado estabelecendo
duas cláusulas: a) Garantia de recursos e prioridade nos repasses financeiros
para as indenizações e reassentamentos (construção da Nova Barra de Santana; b)
Que a barragem principal construída em maciço de concreto compactado a rolo,
onde está inserido um trecho vertedouro localizado no braço principal do rio
Piranhas, só seja fechada quando todas as indenizações forem realizadas e a
nova comunidade estiver construída e as famílias ali residindo.
Finalmente, solicitamos a Vossa Excelência
que seja revisto o orçamento previsto para 2014 no valor de R$ 58.910.881,91
para R$ 140.000.000,00, garantindo em primeiro lugar as indenizações, o
reassentamento das famílias e continuidade das obras físicas de modo que a
barragem seja de fato concluída em agosto de 2015.
Seguiremos juntos nos mobilizando e lutando
por JUSTIÇA E DIREITOS e continuaremos em mobilização permanente com nosso
lema: Barragem Oiticica sim! Injustiças não! Direitos já! No Ponta Pé não
Sairemos.
Assinam esta carta os agricultores
familiares e produtores atingidos pela construção da barragem de Oiticica,
moradores da Barra de Santana e movimentos sociais.
Barra de Santana, 08.06.2014.
Barra de Santana, 08.06.2014.
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